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Cidades Terça-feira, 08 de Junho de 2021, 11:07 - A | A

Terça-feira, 08 de Junho de 2021, 11h:07 - A | A

RISCOS À SAÚDE

‘Comida’ rápida e prática, mas venenosa

A hipótese de que alimentos ultraprocessados não são saudáveis ganhou mais força nesta pandemia. No Brasil de 2021, uma pesquisa inédita feita com 27 produtos dessa classe, identificou que quase 60% dos alimentos contêm agrotóxicos, como glifosato e glufosinato. Substâncias de uso polêmico pela agricultura do país por serem associadas à possíveis causas de cânceres e má formação embrionária.

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Com frequência, as marcas que produzem alimentos ultraprocessados defendem seus produtos com a alegação de que são saudáveis. Seja no rótulo ou na propaganda, alertas importantes deixam de ser divulgados. Um exemplo ocorreu nesta semana. Um documento vazado ao jornal britânico Financial Times, a marca Nestlé, gigante mundial na produção de alimentos, reconhece que mais de 60% de seus produtos não podem ser considerados saudáveis. O relatório, com essa conclusão, era destinado a altos executivos da empresa na Suíça, no começo deste ano.

De volta para o Brasil, uma pesquisa inédita, encomendada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), identificaram que 16 dos 27 produtos analisados, ou seja 59,3%, apresentavam pelo menos um tipo de agrotóxico. Dentro desse conjunto de análise também foi constatada a presença de resíduos de glifosato ou glufosinato em 14 (51,8%) das amostras.

Outro fato que chama atenção dos pesquisadores é que todos os produtos analisados que tinham trigo como ingrediente continham agrotóxicos, dentre eles estão bolachas de água e sal e recheadas, pães do tipo ‘bisnaguinha’ e cereais matinais.

“Parece saudável, mas não é. Diversos produtos ultraprocessados analisados utilizam estratégias publicitárias que chamam a atenção para benefícios que eles podem trazer para a saúde do consumidor. Um exemplo é o cereal matinal Nesfit Tradicional, que é publicizado como saudável, mas apresentou resíduos de dois agrotóxicos”, afirma a pesquisa.
Bebidas como refrigerantes e sucos (néctares) também foram analisados, mas não apresentaram rastros de agrotóxicos. No grupo foi detectado Glifosato em apenas um produto.

Os responsáveis pela pesquisa ainda pontuaram algumas afirmações feitas pela indústria de alimentos ultraprocessados como: o processamento acaba com os agrotóxicos? Para os especialistas, “isso é questionável”.

“Uma série de pesquisas científicas mostra que não podemos afirmar com certeza se o processamento acaba com os agrotóxicos. Ao contrário, alguns estudos mostram que ao passo que alguns processos como lavagem, descascamento, fermentação e cozimento podem reduzir a concentração de certos resíduos, outros podem aumentar”, argumentam.

Ao justificar a tese o grupo cita como exemplos o processamento de dois alimentos: manteiga e trigo. No primeiro caso a concentração de agrotóxicos pode aumentar 20 vezes em comparação com o leite. Já o trigo, alguns estudos demonstraram um acréscimo de 2,5 vezes na concentração de determinados agrotóxicos no farelo de trigo em relação ao grão integral, mas uma redução da concentração na farinha de trigo.

“Em um simples biscoito água e sal, por exemplo, encontramos resíduos de até sete agrotóxicos. Porém, não podem induzir os consumidores a erro: ao ouvir falar que pimentão, morango, pepino e alface, por exemplo, contêm agrotóxicos, as pessoas não devem ser estimuladas a trocar esses alimentos por produtos ultraprocessados”, expõe a pesquisa.

A pesquisa destaca ainda a necessidade da ampliação da fiscalização de ultraprocessados pelos órgãos reguladores e da adoção de medidas que favoreçam escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis pelo Estado. A indústria, por sua vez, deve ser responsabilizada e exigida a utilizar melhores práticas, garantindo a saúde e a segurança dos cidadãos.
Análise mostra que 60% dos alimentos ultraprocessados tinham agrotóxicos.

Tipos de agrotóxicos encontrados

A pesquisa, idealizada pelo Idec, foi desenvolvida para suprir uma lacuna de informação: os consumidores não sabem que os produtos ultraprocessados também podem estar contaminados com agrotóxicos. A partir disso, o instituto solicitou a testagem de 27 produtos alimentícios consumidos pelos brasileiros.

Os produtos foram comprados nos meses de março e de novembro de 2020 em supermercados da cidade de Campinas-SP. A análise foi feita em laboratório acreditado pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (CGRE), credenciado junto ao Ministério da Pecuária e Abastecimento (MAPA) e utilizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em testes de resíduos de agrotóxicos.

“Os testes realizados não deixam dúvidas sobre a presença de agrotóxicos em ultraprocessados, já que não existe “falso positivo” nesses casos. Ou seja, não é possível que a análise tenha informado que determinado produto tinha resíduos de agrotóxicos, sendo que, na realidade, ele não estava contaminado. Fica ainda um alerta de que mais agrotóxicos, e em maioresquantidades, podem ser encontrados em outros lotes dos produtos, já que somente um produto de cada tipo e marca foi analisado e poder haver diferenças de contaminação de produto para produto”, descrevem os pesquisadores.

A pesquisa reforça a necessidade da ampliação da fiscalização de ultraprocessados pelos órgãos reguladores e da adoção de medidas que favoreçam escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis pelo Estado. A indústria, por sua vez, deve ser responsabilizada e exigida a utilizar melhores práticas, garantindo a saúde e a segurança dos cidadãos.

Detectados e quantificados: Carbendazim, Carbendazim (MBC) e benomil, CialotrinaLambda, Cipermetrina, Clorpirifós, Clorpirifós-metílico, Bifentrina, Deltametrina, Fenitrotiona, Glifosato, Glufosinato, Malationa e Pirimifós-metílico.

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