Domingo pela manhã, um dia frio e incomum em Cuiabá, bem no cruzamento de duas importantes vias urbanas, precisei parar brevemente, esperando que o semáforo permitisse passagem.
Nesse interregno, entre o vermelho e o verde, de repente, surge uma garotinha mestiça, de aproximadamente oito anos de idade ao lado da porta do motorista, oferecendo paçocas a R$ 1,00 a unidade.
Tão automaticamente como sua aparição, respondi: - Hoje não querida!
E afastou-se imediatamente para oferecer a guloseima ao próximo motorista...
Tudo isso levou não mais que vinte segundos, tempo suficiente para eu perceber e registrar alguns detalhes.
A mãe da garotinha acompanhava à distância sua movimentação, sentada num meio-fio e em companhia de outra criança ainda menor.
Percebi que a jovem não me encarou diretamente, como se já soubesse a resposta ou estivesse mesmo indiferente ao que fosse a resposta, mas é fato que seus olhos são treinados, pois naquele interstício, ela vasculhou com um olhar ligeiro todo o interior do carro, talvez procurando algum item que pudesse me pedir e apaziguar suas angústias.
Essa é uma cena corriqueira, que expõe mazelas sociais e mede descaradamente o abismo econômico entre as castas.
É, de fato, algo a se preocupar, pois nossas autoridades, não tem olhos treinados para enxergar o óbvio, ou seja, as questões elementares que envolvem a fome, educação, saúde, bem estar, que assolam os menos favorecidos.
Quem tem olhos, que veja, essa é a síntese da obviedade que converge para uma inescusável pergunta: Aos gestores falta treinamento?