Neste aniversário de 306 anos de Cuiabá, não tem como deixar de falar sobre a viola de cocho, o instrumento musical de origem indígena e com influências portuguesas, tipicamente encontrado na região pantaneira, considerado um dos pilares das manifestações culturais locais. Ela é feita a partir de um tronco de madeira inteiriço, e conforme vai sendo esculpida, ela cria o formato semelhante ao recipiente onde se coloca sal para os gados, conhecido como cocho.
Em sua construção, o "cocho" recebe um tampo e outras partes que caracterizam a viola, as cordas originais eram feitas de tripas de animais, como macacos e ouriços, o que garantia boa qualidade sonora, mas com durabilidade limitada. Hoje, muitas vezes se utilizam cordas de linha de pescar, que proporcionam uma ressonância melhor e são mais duráveis, complementadas por um canutilho, que lembra a quarta corda do violão.
Assessoria | Secel

Esse instrumento é fundamental para a música tradicional de Cuiabá, especialmente nas manifestações populares como o cururu e o siriri, duas danças e estilos musicais que têm raízes profundas na região. O som da viola de cocho, com sua tonalidade grave e ressoante, acompanha as canções que narram histórias, lendas e expressam sentimentos típicos da vida no campo e da cultura cuiabana.
Uma das histórias mais marcantes de herança cultural em Cuiabá é a de Caio Cesar Espíndola Schlosser, conhecido artisticamente como Billy Espíndola, multiinstrumentista, cantor e compositor cuiabano. Aos 38 anos, Billy, com sua carreira consolidada no rock, teve uma grande oportunidade em 2014, quando foi convidado para tocar na abertura dos jogos da Copa do Mundo na Arena Pantanal. Esse convite foi o ponto de partida para sua busca por inovação musical. Desde pequeno sempre esteve atento aos sons que a viola emitia, era um instrumento que chamava sua atenção, Billy decidiu então incorporar a viola de cocho, um símbolo da música regional, ao seu trabalho. Com um estúdio de gravação próprio e vasta experiência em personalização de instrumentos, ele passou a adaptar o som da viola de cocho, criando uma fusão única entre o tradicional e o moderno em sua música.
"Desde pequeno meu pai me levava para pescar no Rio Cuiabá e a sonoridade da viola de cocho me atraía muito. E quando cresci e me tornei guitarrista, quis buscar o elemento rústico do instrumento e ampliar a sua sonoridade juntando com a influência rock and roll que sempre tive", explicou Billy.
A partir desse momento, Billy teve a ideia de adicionar um captador de guitarra à viola de cocho. Após sua apresentação, o projeto viralizou nas redes sociais, atraindo a atenção de diversas emissoras, o que resultou em convites para participar de grandes eventos culturais. O nascimento da guitarra de cocho foi imortalizado em um documentário produzido pelo cineasta Dewis Caldas, que foi exibido no Festival Internacional de Cinema Etnográfico e Documental de Portugal, nas cidades de Leiria e Lisboa. O documentário conquistou o prêmio de Melhor Curta-Metragem Internacional de Língua Portuguesa, levando a história da viola de cocho a uma nova dimensão e, com isso, projetando a cultura de Cuiabá no cenário mundial.
Acervo pessoal

Dono de grandes conquistas e com um legado bem estabelecido, Billy Espíndola expande cada vez mais a história cuiabana pelo Brasil, levando a rica cultura local a novos horizontes.
“Uma expressão do nosso amor pela cultura local, esse orgulho de ser cuiabano, esse orgulho de ser mato-grossense que levou a gente a fazer esse processo de eletrificação na viola de coxo, que resultou no nascimento da guitarra de coxo”.
Em comemoração aos 306 anos de Cuiabá, Billy e sua guitarra de cocho serão um dos destaques da programação especial no Parque das Águas, nesta terça-feira, 8 de abril. As atrações ocorrerão das 16h às 22h, celebrando a música, a cultura e a história de Cuiabá com toda sua originalidade.
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